BOOKS | A Vida nos Tetos do Mundo

Este livro do alpinista João Garcia já estava cá em casa há imenso tempo mas assim que vi a oportunidade de conhecer o autor apressei-me a ler o livro e a conhecer mais da pessoa, do atleta e do ser humano, da sua história e das suas conquistas. A Vida nos Tectos do Mundo anda sempre à volta do número catorze. É uma compilação em forma de celebração devido à subida ao cume das catorze montanhas mais altas do mundo (todas acima dos 8000 metros) e que engloba as catorze pessoas que o ajudaram nesta escalada, na vida, na profissão, catorze competências essenciais ao seu sucesso nos topos do planeta, catorze montanhas que teve de escalar para completar este objetivo, catorze momentos marcantes na carreira e catorze locais pelos mais diversos motivos.

João Garcia narra-nos o quão magnífico foi não só subir às montanhas mas sim sobreviver-lhes. Fala-nos do quão inconstantes são e que nunca se podem assegurar que se vai voltar a descer. Fala-nos do risco associado, do fintar a morte, da pequenês sentida, das situações extremas, da paz e da liberdade. João Garcia refere-se brevemente à subida aos picos mais altos de cada continente mas o essencial são mesmo o grandes catorze. Foram dezassete anos deste objectivo e foi o primeiro português a pisar o cume do Evereste sem recurso a oxigénio artificial (que na modalidade é considerado uma batota sem repercussões) e de como isso lhe deu visibilidade. Foi o cume considerado mais importante mas foi o que lhe deu uma das lições mais duras da vida: a morte de um melhor amigo. Refere-se também ao vazio que nunca voltou a ser preenchido. Esta é das partes mais marcantes do livro. Gostei muito do testemunho do Annapurna que foi o último dos catorze, de como conheceu a mulher, no Kilimanjaro, do médico e amigo que o tratou após às queimaduras do Evereste e da paixão com que fala da cidade de Katmandu e das histórias das bandeiras da oração e do respeito pelas culturas.

João Garcia leva-nos com o seu levantar após cair, jamais desistir, tentar sempre e mostra-nos o quão interessado, consciente e culto é nisto. Usa as montanhas como metáforas para a vida - e eu adorei isso -  evoca a sensação de 360º do planeta e da impossibilidade de ir mais longe. Este livro é o resumo de uma vida inteira de dedicação, são lições e os testemunhos de viver no limite. Quando o conheci fiquei abismada com os conhecimentos de anatomia e de geografia que tinha - obviamente essenciais! Estava completamente na praia dele a falar-nos da sua maior paixão. É uma pessoa extremamente humilde e bem-disposta e que se referiu sempre à motivação ao trabalho, empenho e esforço necessário à conquista de tudo e que há três pilares essenciais a chegar ao topo - seja do que for - paixão, dedicação, humildade. Saí de lá motivada fosse para o que fosse e com vontade de ir mais além. Quando conheci o alpinista foi extremamente simpático e sorridente, sempre de bom humor e a dizer piadas, e referi o quanto era uma inspiração para mim como profissional, atleta, ex-escuteiro e ex-ginasta. Respondeu às nossas questões sempre de maneira muito atenciosa, grata e inteligente, adorei isso!

Uma Vida nos Tetos do Mundo é um livro pequeno de leitura rápida, fácil e pouco enfadonha que nos leva na história da conquista dos catorze cumes mais altos do planeta feitos pelo décimo homem a conquistar este feito numa altura em que mais pessoas tinham ido à Lua do que aos grandiosos catorze. Contém fotografias deslumbrantes, testemunhos brilhantes, alguns de nos apaixonar-mos e outros de partir o coração. Recomendo muito, é verdadeiramente incrível e arrebatador mas motivador e inspirador ao mesmo tempo. 

1 comentário:

  1. Ainda não consigo aceitar a nova escrita oficial para a palavra "tecto" haha. Não sendo o meu género literário favorito, achei bastante interessante a simbologia do número 14. Ainda bem que ele correspondeu às tuas expectativas quando o conheceste :)

    Ricardo, The Ghostly Walker.

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